Envelhecimento e modos de ensino-aprendizagem
DOI: 10.14393/EDUFU-978-85-7078-511-4
Para Mucida (2006, p. 16),
A velhice exige novas transcrições e traduções. Ela desacomoda muitos “restos” deixados em qualquer canto à espera de um tratamento possível; desacomoda a procrastinação, desacomoda os futuros não cumpridos – mas que gostaríamos de realizar, desacomoda a ideia de imutabilidade ou de permanência, desacomoda os ideais e as certezas nas quais todo sujeito busca se alojar. A velhice desacomoda, incomoda, principalmente nesse mundo permeado de máscaras do novo.
Pensando nessa desacomodação pressuposta na velhice e no possível trabalho de acomodação que traços do real demandam é que surgiu a proposta desta obra. Sem desconsiderar o efeito do envelhecimento ou a experiência da velhice, mas a eles agregando a potência de avivamento do desejo atribuída aos discursos da terceira idade, este livro aposta na possibilidade de que o idoso experiencie uma atualização e uma consequente ressignificação de alguns traços que compõem sua constituição identitária por meio de modos de ensino-aprendizagem que podem colocar em movimento a palavra.
A expressão “modos de ensino-aprendizagem” pretende afastar a ideia de generalização e de certitude normalmente atribuída aos resultados de um processo de ensino-aprendizagem, aludindo, assim, à impossibilidade de educar, assinalada por Freud (1976). Trata-se de problematizar esse processo, subordinando-o à historicidade que o atravessa e aos seus integrantes, ao investimento subjetivo em jogo, à relação transferencial entre aluno-professor e à construção particular do saber. A expressão modos de ensino-aprendizagem assinala, portanto, uma filiação a uma perspectiva discursiva sobre o ensino-aprendizagem de línguas fortemente atravessada por conceitos psicanalíticos (Coracini, 2002).