MAX HORKHEIMER: teoria crítica e barbárie
Ao contrário da filosofia, tradicionalmente avessa a imagens, a Teoria Crítica, que pretendeu atingir outro status epistemológico, dispõe de inúmeras cenas e anedotas em sua história de quase um século. Benjamin, que deu espaço às cinematográficas figuras do flâneur, da cidade moderna e do anjo assustado de Klee, foi mais longe com a noção mesma de “imagens dialéticas”. E seu colega Brecht chegou a pensar em uma peça sobre a irônica contradição que marcou os primórdios do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, financiado por um alemão que plantava trigo na Argentina. A capa deste livro poderia, por exemplo, trazer uma grande lua cheia, pois Adorno temia que o engano de uma criança viesse a ser nosso pesadelo: o satélite natural é um balão iluminado que anuncia algum produto no mercado? Todavia, não seria uma boa ideia ilustrar um livro sobre Horkheimer com uma alusão ao seu precoce Ocaso, com um luso-fusco melancólico ou o azul-crepúsculo de seu pessimismo, puxando para o declínio. Por isso, preferimos aqui uma combinação marítima: um barco e uma garrafa atirada ao mar. Benjamin contou a história da viagem do Mascot, que zarpou de Hamburgo e veio parar na América Latina, à época da guerra, assim como a própria bibliografia frankfurtiana, desde então. Adorno, resignado, contentar-se-ia com a Teoria Crítica que fosse mantida à deriva como mensagem em uma garrafa, aguardando seu destinatário, já que a classe trabalhadora foi – momentânea ou definitivamente – dispersada pelos processos coisificantes do renitente capitalismo. A barbárie, a que o título do livro remete, não merece aqui uma alegoria nem uma tonalidade cinza, mas antes, mais uma vez, a ressalva do imaginativo Benjamin, que deu as boas-vindas aos novos bárbaros. Horkheimer é também um autor para os recomeços da história sempre ainda aberta.
***ESGOTADO***